sexta-feira, 14 de maio de 2010
Trabalhei com meus alunos este livro da Ana Maria Machado
Não se sabe ao certo quem inventou as narrativas do livro: as pessoas as contam porque ouviram alguém contar para elas. No caso de Ana Maria Machado, quem contava algumas dessas histórias era a avó da escritora. E a avó da Ana Maria, por sua vez, tinha ouvido as mesmas histórias da avó ela. É o caso de "Pimenta no cocuruto", que conta a história de uma galinha que, um belo dia, ciscava debaixo de uma pimenteira. De repente, cai uma pimenta no alto da cabeça dela, bem no cocuruto. A pobre galinha acha que é um aviso de que o mundo está acabando e sai espalhando a notícia para a bicharada."A Moura Torta" é a história de uma velha feiticeira caolha que todo mundo chamava de Moura Torta porque parecia uma bruxa. Ela vai buscar água no riacho, vê o reflexo de uma bela figura feminina na água e pensa que está vendo a si própria. A moça do reflexo, na verdade, é uma princesa encantada. A Moura Torta faz um feitiço e a transforma numa pomba branca para tentar roubar o príncipe da garota.Além de "A Moura Torta" e "Pimenta no cocuruto", o livro traz também os contos "O macaco e a viola", "João Bobo", "Festa no céu", "Dona Baratinha", "O Bicho Folhagem", "O Veado e a Onça", "Maria Sapeba" e "A galinha que criava um ratinho".
Capa: João Baptista da Costa Aguiar
Ilustrações: Odilon Moraes
Companhia das Letrinhas, 2002
ISBN: 8574061557
79 páginas
2003 - Altamente Recomendável, Fund. Nac. do Livro Infantil e Juvenil (Reconto)
2002 - Prêmio Figueiredo Pimentel - O melhor livro reconto, FNLIJ (Hors Concours)
Fernando Pessoa e Cecília Meireles: o encontro entre poesia e criança
Alice Áurea Penteado Martha
Universidade Estadual de Maringá (Brasil)
Quando as crianças brincam
E toda aquela infância
Considerações iniciais:
Com este texto pretendemos considerar, a partir da leitura de poemas de Fernando Pessoa e de Cecília Meireles, os recursos de que se valem os poetas para promover a mediação entre a produção poética e a criança. Os poemas do autor de Mensagem, publicados em épocas e volumes diversos, foram recolhidos no volume Fernando Pessoa. Comboio, saudades, caracóis (FTD, 1988), organizado por João Alves das Neves e revelam uma face pouco conhecida do poeta; os da escritora brasileira, reunidos no livro Ou isto ou aquilo (Nova Fronteira, 1987), vieram a público em 1965 e são inteiramente dedicados aos leitores infantis. É preciso enfatizar que não se trata, como a princípio poder-se-ia supor, de um estudo sobre os modos como a infância de ambos é refletida em sua produção poética, tema, aliás, do artigo publicado por Francisco Cota Fernandes, Fernando Pessoa e Cecília Meireles: a poetização da infância, na revista do Centro de Estudos Pessoanos, Persona 5, de abril de 1981. Trata-se, isto sim, de observar como ambos, grandes poetas da nomeada “poesia para adultos”, não reduziram a qualidade estética de sua produção quando o intento era chegar até seus pequenos leitores. Ambos souberam, ao dirigir-se à criança, como revitalizar a palavra poética, concedendo-lhe tratamento mágico, sem desrespeitar-lhe o estatuto artístico.
Há um dado biográfico interessante dos poetas que não deve ser desprezado, pois pode ser relevante para compreender as imagens da infância em seus poemas, mesmo em uma leitura mais introdutória como esta, que é a herança cultural açoriana de ambos, advinda do fato de terem sido criados em ambientes prenhes de sensações e cadências dos Açores. Fernando Pessoa, filho de mãe açoriana, convive ainda com outros integrantes da linhagem materna; Cecília Meireles, órfã de pai e mãe, na mais tenra idade, é educada pela avó materna, D. Jacinta Garcia de Benevides, também de origem açoriana, como a própria escritora observa: “[...] minha avó, com quem fiquei, depois de perder minha mãe, sabia muitas coisas do folclore açoriano, e era muito mística, como todos os de S. Miguel”. (MEIRELES, 1977, p.61)
Embora não tenhamos a intenção de ressaltar significativo número de poemas para a infância na obra de Fernando Pessoa, como ocorre com a produção poética de Cecília Meireles, é interessante observarmos o modo como ambos promovem, em textos das obras mencionadas, por meio da tematização do cotidiano infantil e pela adoção de um ponto de vista valorizador do anticonvencional, tanto da linguagem quanto do recorte do real, o encontro entre a poesia e a criança. Devemos enfatizar, ainda, que os poetas, ao se inspirarem no cotidiano e ao assumirem a ingenuidade da ótica infantil, incorporaram, na poesia para crianças, os princípios da lírica contemporânea, segundo os quais os temas mais prosaicos podem revelar intenso lirismo.
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http://www.ucm.es/info/especulo/numero30/pessmeir.html
As Meninas

Arabela
abria a janela.
Carolina
erguia a cortina.
E Maria
olhava e sorria:
"Bom dia!"
Arabela
foi sempre a mais bela.
Carolina
a mais sábia menina.
E Maria
Apenas sorria:
"Bom dia!"
Pensaremos em cada menina
que vivia naquela janela;
uma que se chamava Arabela,
outra que se chamou Carolina.
Mas a nossa profunda saudade
é Maria, Maria, Maria,
que dizia com voz de amizade:
"Bom dia!"
Cecília Meireles, Ou isto ou aquilo, Nova Fronteira
a andar de skate, a fazer molecagens... Já os meninos não
transitam com a mesma facilidade nas atividades que um dia
foi exclusividades femininas. Tarefa difícil encontrar um menino
matriculado em aula de balé, mas o que mais se vê por aí é
menina lutando judô, caratê e fazendo bonito. Mas, afinal, o
que está acontecendo com as garotas? Parece que, para elas,
os tabus caem todos os dias.
O universo das meninas reúne, hoje, o que é considerado
feminino - elas continuam brincando de Barbie, adoram se
maquiar, amam o mundo cor-de-rosa - mas também adoram
o que tradicionalmente era considerado "masculino". Elas
transitam com desenvoltura nesses dois mundos.
